segunda-feira, 18 de novembro de 2013

20 de Novembro – Dia da Consciência Negra! E a Consciência Humana?

Há algum tempo venho observando e acompanhando a reação das pessoas na proximidade do dia 20 de Novembro. Os posicionamentos são diversos, mas é interessante a conclusão: com base no senso comum, a maioria das pessoas não compreende o significado dessa data e, pior, considera uma inutilidade, ou ainda, um desperdício para a economia do país. Um feriado, tão próximo do período das festas de fim de ano... Engraçado, pois ninguém questiona que um Estado Laico tenha tantos feriados religiosos, católicos somente. O comércio deixa de faturar milhões e os brasileiros não vão trabalhar... Para quê?
Então, vamos a uma das alegações presentes nas redes sociais: “não precisamos de um dia de consciência negra, branca, amarela, mas de 365 dias de consciência humana”. Lindo! Comovente! Vou entender que quem usa esse argumento se diz “sem preconceitos” e acredita que esse tipo de distinção só acirra o racismo e a discriminação. Arrá! Portanto, admite que o racismo existe?

Pois bem! Quem é negro não precisa de televisão, jornal ou Internet pra saber disso. Descobre na infância, nas brincadeiras com os coleguinhas do bairro... No primeiro conflito, os coleguinhas vão te lembrar que VOCÊ É DIFERENTE. Não preciso nem mencionar os apelidos, os xingamentos, pois são feridas que jamais cicatrizam. E isso não é bullying! Mas esses coleguinhas não são racistas, ninguém nasce racista, a sociedade é racista, logo...
Aí você vai crescendo e percebendo que seus coleguinhas chegam àquela fase de se apaixonar... “Fulano gosta de fulana” e etc. Mas ninguém gosta de você... “Você é legal, mas...” A adolescência chega: as moças se esforçam para ficar bonitas, isto é, aproximar-se do padrão irreal de beleza que temos e os rapazes começam a ser escolhidos “aleatoriamente” para as revistas policiais. Alguns já percebem mais cedo que os seguranças das lojas e supermercados lhes dispensam uma atenção toda especial em seus momentos de compras... Não é uma sensação de segurança que surge, mas um incômodo por ser sempre considerado suspeito!
Ah, e tem aqueles que vão perdendo os amigos de forma violenta. “Foi confundido com bandido”, “Fez um movimento brusco”, “Pôs a mão no bolso e o policial pensou que fosse sacar uma arma”, “Estava em atitude suspeita”... Calma! Isso é só um detalhe: é que um adolescente negro tem 3,7 vezes mais chances de ser vítima de homicídio. Então, pode acontecer...
Há alguns anos, um/a jovem negro/a tinha pouquíssimas chances de chegar ao Ensino Superior. Alguns escorregavam pelo funil e eram tratados como exemplo de que “é só se esforçar”. O funil mostrava que, ao longo da escolarização, o/a negro/a ia desaparecendo do sistema de ensino e um percentual baixo concluía o Ensino Médio. Várias são as causas, uma delas é a evasão por necessidade de trabalhar e complementar a renda familiar por estar nos piores indicadores sociais do país; seus pais ganham menos do que os pais de seus coleguinhas - segundo o IBGE/2013, a população economicamente ativa (PEA) branca possui rendimento médio 74,2% superior à negra (preta e parda). Outra é a repetência ou indisciplina, pois você vai à escola e tem que engolir em seco quando o/a professor/a te chama de “moreno/a”, com medo de ofender e só lembra de seus ancestrais e sua história no dia 13 de maio quando, em 1888, foram libertados após mais de 300 anos de trabalho escravo. Nossa, quanto tempo de passividade, não? É que na escola ninguém te conta sobre os heróis, o processo de resistência...

Aliás, o dia 20 de Novembro é bastante importante nesse sentido, pois ressalta não somente a figura de Zumbi e o Quilombo de Palmares, mas possibilita lembrar todos/as os/as negros/as que, ao longo de nossa História, nos trazem orgulho. Logo, o dia 20 de Novembro exalta a Consciência Negra, esfacelada por séculos e mostra-se como uma oportunidade para que os/as não-negros/as também conheçam essa face que também é da sua História, é da História da Humanidade. Lembra da consciência humana?

Nenhum comentário:

Postar um comentário