Entrevista com Denise Mak, Mestra em Educação: História, Política, Sociedade, Pedagoga (Mackenzie) e Professora da Educação Infantil (PMSP)
Pergunta 1 – Denise, por que
você acha que o calendário escolar ainda privilegia datas comemorativas para o desenvolvimento
do currículo e não o inverso? E também, por que datas religiosas do
cristianismo acabam fazendo parte do cotidiano escolar com tanta naturalidade
sendo a escola pública uma instituição laica?
As datas estão presentes no
universo escolar por uma razão que nós conhecemos: é uma questão histórica.
A construção de uma religião
comum a todos e a ideia de nação fizeram com que as datas comemorativas
adentrassem as escolas e se tornassem inquestionáveis.
É preciso ver com outros
olhos o que está naturalizado dentro do ambiente escolar. Muitos educadores não
conseguem fazer esse exercício e enxergam as datas comemorativas como algo que
faz parte do currículo, o que é uma atitude equivocada. Já ouvi muitos
educadores, colegas de trabalho, falarem: mas se nós não comemorarmos a Páscoa,
dia das mães, entre outras datas, o que faremos com as crianças? Essas pessoas
acham que a escola de educação infantil perderá seu real intuito sem as datas.
Penso justamente o contrário: temos muito a ganhar sem as datas, principalmente
sem as religiosas que privilegiam somente o cristianismo, dentro do âmbito escolar.
Datas religiosas estão presentes porque nosso país possui uma maioria cristã,
mas tudo se trata de uma imposição e manipulação de memórias, de sempre
inferiorizar a minoria, isso pode ser constatado na história da educação
brasileira.
Pergunta 2 – Presenciamos no
ambiente escolar que os/as professores/as organizam muitas atividades em torno
de duas datas religiosas, a Páscoa e o Natal, as mesmas que você abordou em seu
artigo “A Páscoa e o Natal: a comemoração dentro da escola”, publicado em 2013
na Revista Acadêmica Veras. Chama a atenção que ao serem questionados/as sobre
a comemoração na escola afirmam que não enfocam a religião. Há como fazer isso,
considerando que datas significativas de outras religiões não aparecem em
outros momentos? Existe uma maneira de comemorar a Páscoa, fazendo atividades
de partilha de chocolates, confecção de máscaras de coelho e conversas sobre os
símbolos da data, sem explorar o aspecto religioso? Aliás, existe essa
necessidade?
Para mim, essas datas devem
ser abolidas do calendário escolar, a Páscoa e o Natal, conforme você
exemplificou, não devem fazer parte, de modo algum, do currículo de qualquer
escola pública laica. Quem deve trabalhar religião, ou não, é a família.
Devemos respeitar a religião dos nossos alunos e não impor de maneira
incondicional o credo que possuímos.
Se a escola pública comemora
datas religiosas cristãs deve comemorar de todas as outras religiões, acredito
que isso seja impraticável.
Sobre como trabalhar de
outra maneira a Páscoa, seria importante fazer um projeto sobre o coelho, pois
muitas crianças acreditam que este animal bota ovos, creio que seria uma
maneira científica de trabalhar esta questão, mas isso pode ser incluso em um
projeto sobre mamíferos, por exemplo, não necessariamente na época da Páscoa.
Pergunta 3 – Você vê a
possibilidade da escola fazer um trabalho que envolva religião sem discriminar
ou enaltecer somente alguns grupos?
Eu não vejo como, pois os
entes da escola pública possuem uma diversidade religiosa muito grande entre si.
Nunca trabalhei fora da educação infantil e desconheço projetos que focalizem
esta temática de maneira não discriminatória, se tiver algum projeto sobre isso,
eu gostaria de conhecer.
Pergunta 4 – A partir de sua
experiência de pesquisa para o mestrado, seu olhar em relação ao tema “religião
na escola” provavelmente ficou mais apurado. Percebeu alguma mudança de
posturas ou falas dos/as professores/as em sua presença?
Não houve nenhuma mudança de
postura e isso me possibilitou uma boa coleta de dados. Elas sabiam o que eu
pesquisava e mesmo assim agiram da maneira que costumam agir em sala. A
pesquisa demonstrou o quanto a religião pessoal pode ser levada para dentro da
sala de aula e creio que passei a respeitar mais este assunto e a ser mais
tolerante com pessoas que tentam impor seus credos dentro de sala de aula, acho
que já fui mais radical, mas com o tempo percebi que essa é uma luta difícil e
que deve ser construída aos poucos, porém com frequência.
Pergunta 5 – Você concorda
com a frequente justificativa de abordar a Páscoa na escola com a necessidade
de trabalhar os valores no ambiente escolar?
Discordo. As pessoas tendem
a vincular bondade com religião e isso é um ledo engano. A construção de
valores não pode ser trabalhada nas datas comemorativas, ela é uma construção
cotidiana e coletiva. Devemos respeitar os nossos alunos e demonstrar isso no
dia a dia da sala de aula e não com embasamento em alguma data comemorativa,
principalmente as vinculadas a uma religião. A ética deve ser algo primordial
dentro da escola, consequentemente dentro da sala de aula.
Achei a entrevista muito pertinente, com um tema que precisa sempre estar presente nas formações de professores. É pela relevância de ideias como esta, que acredito que professores com esta linha de pensamento devem permanecer e aumentar em número dentro da rede pública de Educação.
ResponderExcluirPrimorosa a concepção desta educadora! Gostaria que cada escola dispusesse de, ao menos, um educador(a) com essa visão. Poderiam se tornar agentes multiplicadores dentro da instituição e da comunidade e contribuir muito à melhoria da educação deste país! Meus parabéns!!
ResponderExcluirONDE QUE EU CLICO 10 MIL VEZES? SAIBAS ARGUMENTAÇÕES E MARAVILHOSAS RESPOSTA APOS AS PERGUNTAS!!ESTE TEMA ESTA DE PARABÉNS!!
ResponderExcluirConcordo, mas me questiono se a escola não deve ir na contramão desta febre de coelho e consumismo, aproveitando o momento para justamente questionar esta cultura? Ignorar estas duas datas é fechar os olhos e ignorar o que acontece na sociedade. Creio que trabalhar a origem, as lendas, e principalmente, combater o consumismo, é papel da escola.
ResponderExcluirPenso que a história não pode ser ignorada, assim como temos grandes filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles, a história nos remete ao passado que nos formulou até os dias atuais. Levando em conta que as leis que nos regem são formuladas (muitas) das escrituras antigas (a bíblia que também é história).
ExcluirVejo assim Jesus (homem) como um grande filosofo que nos instiga ao caráter, o respeito a dignidade, assim também qualquer homem que esteja disposto a somar para melhoria do cidadão.
Sendo assim a pascoa como retrata a ressurreição, pode nos remeter a ressurreição de valores a moral e o caráter que está bastante escaço da sociedade.
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ExcluirSe nao podemos ignorar a historia, por que ignoramos as celebracoes pagas, que vieram muito antes das celebracoes cristas? So a historia da biblia nao vale, se for assim, temos que envolver TODAS as historias.
ExcluirPenso que se preocupassemos em termos o cuidado nas escolas públicas em ensinar valores éticas e um ensino de qualidade nao e.nao ficar ocupado em tirar O cristianismo da escola, nosso país seria um país mais humano, falam da Páscoa e do Natal dizem q é algo manipulador ,mas.e o q me dizem das.festa Junina , halowem. Penso q se estamos fazendo o bem ,demostrando as nossas crianças que doar, fazer o bem, e se sacrificar pelo nosso próximo vale a pena. Isso é ser professor, não apenas letrar mas ensinar sentimentos.
ExcluirJesus como filósofo? Mas pq poucas são as que trabalham outros filósofos? Pq Jesus? Conceitos implícitos na obra de Cristo deveriam permear todo o currículo,como amor,gratidão,humildade,acolhimento,paz... É um difícil caminho a ser trilhado,mas a minha escola aboliu todas essas festividades e vivemos felizes! Os pais estranharam...Nos estranhamos...Mas faz parte! Hoje gostamos do resultado pq não estamos amarrado com datas festivas e sim com nossos projetos que são muitos!
ResponderExcluirNum tou meconformando com tanta barbaridade que li. Se depender do texto, muita gente so vai conhecer Cristo quando tiver entro das cadeias. O mundo precisa MELHORAR!!! Aff me poupe viu...cada uma que aparece...vai p Rio de Janeiro dar um jeito no trafico. Isso voce nao quer, ne...
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ExcluirSempre acreditei que a escola é um ambiente formador e que a religião deve ficar a cargo da família. O professor deveria ser neutro neste ambiente, indepentende de sua formação religiosa ou não, pois temos uma diversidade imensa dentro da escola. Já temos muito o que trabalhar com essas crianças e adolescentes, valores, ética, etc.... muito boa reflexão Denise!
ResponderExcluirExcelente texto. Tambem luto por uma escola que valorize a infancia, como um tempo de conhecer, investigar, aprender. São tantas coisas que ficam pra traz quando se é submisso ao trabalho baseado em datas comerciais. Uma pena, mas a luta ainda é longa.
ResponderExcluirExcelentes as colocações da pesquisadora! Impressionante como muitos professores/professoras ignoram o princípio da laicidade, tão bem expresso na LDB 9394/96 e tratem com naturalidade, na escola, datas comemorativas próprias do cristianismo como Páscoa e Natal. Isto demonstra o quanto há que se investir em formação docente!!
ResponderExcluirDe acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil, os dois eixos de aprendizagens são as interações e brincadeiras, diante disso o repertório de possibilidades para planejamento de práticas pedagógicas é tão amplo, que não há necessidade de se trabalhar datas comemorativas que estão muitas vezes ligadas ao assistencialismo e a valores que não respeitam a diversidade cultural.
ResponderExcluirMuitos pensam só pensam no aluno que tem uma crença diferente,mas não pensam que o professor também pode ter uma crença diferente. Como fazer nesse caso, fica um grande impasse: nao trabalhar o tema, trabalhar de forma superficial e bem sutil (o que dá na mesma de não trabalhar), ensinar o que considero ser o certo? É um grande constrangimento qdo chegam essas datas religiosas!
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ResponderExcluirRelevância total este texto, traz exatamente o que penso sobre as datas comemorativas.
ResponderExcluirAmei... Chuva de likes para Denise Mak...😍
Bem, a páscoa está no mundo, não dá mesma forma ocidental, mas de diversas maneiras, se come omelete gigante, até crueldade com animais se prática, precisamos falar e não privilegiar religião. Ótimo contextualização de temática
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