Se você pensa que este assunto é importante somente para as famílias de crianças negras, se enganou! Esse assunto é fundamental para o desenvolvimento de todas as crianças, negras ou não-negras e faz parte da função de toda família comprometida com a formação de seus filhos e filhas como cidadãos responsáveis, autônomos, cooperativos e conscientes de seus direitos e deveres. E, acima de tudo, comprometidos na construção de uma sociedade mais justa e, para isso, é primordial adotar uma postura antirracista.
Vou falar sobre a importância da representatividade negra para a
formação das crianças. Antes, algumas perguntas para reflexão:
- Ao assistir televisão, as crianças têm exemplos positivos sobre
pessoas negras? Se a população negra está em torno de 54% do total, vemos, pelo
menos a metade de apresentadores de programas de auditório ou de entrevistas,
repórteres, jornalistas, atrizes/atores, modelos, cantores/as negros e negras nas produções que
assistimos?
- Em casa ou na escola, as crianças têm contato com livros de
autores/as negros/as, com personagens negros/as nessa proporção de 50%?
- Vemos no corpo docente, coordenação e direção das escolas,
aproximadamente 50% dos profissionais? Ou essa presença negra é expressiva
somente nos cargos de limpeza, apoio operacional e cozinha?
- Quando vamos ao shopping, percebemos que metade dos profissionais
em cargos de gerência é negra? E a metade dos vendedores das lojas mais
sofisticadas, refinadas e caras? E nas empresas, quem está nos
cargos de chefia?
- E na ida a um hospital ou clínica médica, vemos que metade dos
médicos/as e enfermeiros/as é negra?
- E no poder executivo e legislativo dos municípios e Estados? E no poder judiciário, como a diversidade racial se manifesta?
Vejam bem! Nem analisamos todos os espaços sociais e percebemos o
quanto a nossa sociedade precisa avançar, não é? Se a população negra no Brasil
é tão grande, por que ela não está presente em alguns espaços? E por que ela só
é maioria nas áreas de maior vulnerabilidade social? Nos postos de trabalho mais precarizados? A resposta é que tudo isso é
consequência do racismo estrutural.
E onde a representatividade negra na infância entra nisso? É
importante que as pessoas comecem a se familiarizar e associar as pessoas
negras a aspectos positivos, e não somente à miséria, à pobreza, à exclusão
social! Para tanto, temos que começar bem cedo, apresentando imagens de
pessoas negras em diferentes situações para as crianças, tanto em casa como na
escola. Para que elas se acostumem com nossos traços e características e
percebam beleza neles. Para que consigam associar nossos corpos negros associados à inteligência, à competência, à liderança, à inovação.
É importante que crianças negras e não-negras tenham bonecas e
bonecos negros. Que aprendam a demonstrar afeição e admiração por eles.
Temos que apresentar às crianças negras e não-negras livros
escritos por pessoas negras, que tenham personagens negros como protagonistas e
como sujeitos de sua história, em diversas situações do cotidiano, não somente para falar de racismo, preconceito e discriminação. E não exclusivamente em datas pontuais, como 13 de Maio e 20 de Novembro.
Precisamos corrigir as lacunas da história escolar que ensina para as crianças que a história do negro está ligada à escravidão sendo que a história do negro, bem como da humanidade, tem início no continente africano.
Uma história repleta de contribuições fundamentais para o desenvolvimento
científico e tecnológico universal, com grandes reinos e impérios! Nossas
crianças precisam conhecer esta história!
Nossas crianças precisam aprender que o desenvolvimento da
agricultura, da matemática, da engenharia, da medicina, da astronomia, da escrita,
dentre outros, ocorre na África!
Será que se as crianças aprendessem tudo isso e muito mais na
escola e em casa, elas iriam pensar que pessoas negras são inferiores, menos
inteligentes, menos desenvolvidas ou menos belas? Todas essas concepções são obras
do racismo e cabe a nós, pais, mães, responsáveis em geral, professores e
professoras um engajamento para combater o racismo, aprendendo mais a cada dia,
ensinando às nossas crianças e não reproduzindo preconceitos, discriminações e
o racismo no nosso dia-a-dia! E nunca, em hipótese alguma, permitir que uma
criança negra seja discriminada. E, quem presenciar uma situação dessa não pode
se omitir. Deve intervir e corrigir quem ofende e discrimina.
A página Falando de Racismo no Instagram (@falandoderacismo)
elaborou uma lista com 8 atitudes simples que qualquer pessoas pode assumir
para educar crianças antirracistas:
1 – Dê livros, brinquedos, filmes com personagens negros e negras.
2 – Se relacione afetivamente com pessoas negras.
3 – Reconheça! Converse sobre a estrutura socialmente racista. Não
somos todos iguais.
4 – Exija que a escola seja representativa.
5 – Entenda o privilégio branco e encontre o seu lugar de fala.
6 – Enxergue as pessoas negras ao seu redor e se relacione.
7 – Respeite, conheça e prestigie a cultura afro-brasileira.
8 – Pesquise e visite lugares que celebrem a cultura
afro-brasileira.
E acrescento mais dois itens: elimine as expressões racistas de
seu vocabulário (dia de branco, a coisa tá preta, denegrir, não sou tuas "nêgas",
mulata, cabelo duro ou cabelo ruim, preto de alma branca, nega maluca, cor de
pele, cor do pecado, inveja branca, mercado negro, lista negra, ovelha negra,
magia negra, humor negro, serviço de preto) e cobre das escolas de seus filhos e filhas o cumprimento da lei 10.639/03 e 11.645/08!
O combate ao racismo é tarefa de todos nós!