Crédito da imagem: http://migre.me/sHsZj
Difícil
dizer se 2015 foi um ano em que os casos de racismo nas escolas aumentaram
significativamente ou se o que aumentou e muito foram as denúncias dos mesmos
nos órgãos competentes e a divulgação dos mesmos nas mídias sociais. Acredito
que a segunda opção é a mais provável.
Assim,
elegi como primeiro texto de 2016 e para reinaugurar uma maior periodicidade
das postagens deste blog uma pequena RETROSPECTIVA com alguns dos fatos que
ganharam as mídias sociais. O triste disso tudo foi perceber que nossas
indefesas crianças ainda são vítimas de situações constantes e cruéis de
preconceito, discriminação e racismo em nossas escolas, apesar de termos
dispositivos legais que sinalizam e tem a intenção de garantir que o espaço
escolar seja cenário de ações pedagógicas comprometidas com uma educação
antirracista, porém, percebemos que os profissionais responsáveis por
implementá-la ainda não se conscientizaram de seu papel e tampouco estão sendo
formados e preparados para lidar com estas situações que descreverei abaixo:
JUNHO – Belo Horizonte –
MG: Escola de Educação Infantil propõe atividade para crianças de 2 anos
vivenciarem como é “ter a cor negra” oferecendo tinta preta para que elas
pintassem o corpo. A atividade foi feita após leitura da história “A Bonequinha
Preta”, de Alaíde Lisboa. A escola divulgou uma foto da atividade no Facebook e
logo retirou-a devido à repercussão negativa. Pouco compreendida por alguns
leitores da matéria, mas bastante criticada por pessoas ligadas a movimentos
negros. A atividade frustrou seu objetivo de fazer com que as crianças
vivenciassem o que é ser negro, pois isso não se resume a ter a pele escura. Pintar
a pele de preto? Temos pessoas com essa cor no Brasil? E aos 2 anos, alguma
criança teria capacidade cognitiva para compreender a suposta profundidade do
objetivo dessa atividade? Há muitas obras literárias com conteúdos e imagens
bastante pertinentes, interessantes, atrativos e significativos para o trabalho
com a diversidade étnico-racial na escola com crianças pequenas, algo que as
obras de 1930, por seu contexto, não tem. Leia mais em: http://educacao.uol.com.br/noticias/2015/06/24/escola-cria-polemica-ao-pintar-criancas-de-preto-em-mg.htm
AGOSTO – São Paulo –
SP: Menino de 11 anos divulga um vídeo-desabafo onde denuncia o racismo sofrido
na escola com xingamentos e intimidações por parte de colegas e a omissão da
professora. Tem sido comum ultimamente as pessoas denominarem “bullying” ao que,
na verdade, é manifestação de preconceito racial. A escola, com a ação de seus
professores e professoras, não pode se furtar à responsabilidade de se
posicionar e intervir quando uma criança está sendo vítima de preconceito
racial. Esse tipo de situação pode ser
menos frequente se as escolas efetivarem em seu currículo ações voltadas para
uma educação antirracista, de acordo com as Leis nº 10.639/03 e 11.645/08. Leia
mais em: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/08/o-desabafo-de-um-menino-de-11-anos-que-e-vitima-de-racismo-na-escola.html
SETEMBRO – São Paulo –
SP: A partir da prática contínua de trabalho com a história e a cultura
afro-brasileira, alunos e comunidade de uma escola pública reivindicam a substituição
do nome da instituição que homenageia uma figura da Guerra do Paraguai para “Nelson
Mandela”. O primeiro, desconhecido e sem identificação com a comunidade, o segundo,
figura admirada a partir de projeto pedagógico que fez com que a escola
passasse a receber pichações racistas em seus muros. Os comentários dos
leitores da matéria nos trazem um panorama sobre por que é importante um
trabalho de educação das relações étnico-raciais. Homenagear um ícone negro do
combate ao racismo não significa discriminar os brancos, mas reparar uma dívida
histórica com a população negra. Somente que não conhece absolutamente nada do
legado africano para a história da humanidade pode argumentar que os negros só
contribuíram com samba e malandragem, como afirma um dos leitores. Lei
10.639/03 nele! http://g1.globo.com/educacao/noticia/2015/09/apos-ser-alvo-de-racismo-escola-luta-para-se-chamar-nelson-mandela.html
OUTUBRO – Rio de
Janeiro – RJ: Menina de 6 anos sofre preconceito racial e sua mãe denuncia a
omissão da escola. Uma parte bem triste da história é a leitura dos comentários
dos leitores da matéria, que minimizam a
relevância do fato, mencionando “vitimismo” da população negra, afinal, enquanto
se sofre calado, não perturba a paz de quem usufrui dos privilégios do racismo
institucional na sociedade brasileira. Vitimismo é igualar RACISMO a BULLYING,
comparar a escravização e coisificação de povos africanos pelos europeus a outros
tipos de preconceitos, desconsiderando seus desdobramentos na atualidade e a
recente implementação de políticas públicas de cunho afirmativo após mais de um
século da abolição. Leia mais em: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2015/10/mae-diz-que-filha-sofreu-racismo-em-escola-do-rio-cabelo-de-pobre.html