All Power to the People!
Serenidade
e sabedoria… Acredito que estas duas palavras resumem a Conferência de Ericka
Huggins, dos Panteras Negras intitulada “Movimentos Sociais nos Estados Unidos
da América: o legado global do Programa de Sobrevivência Comunitária do Partido
dos Panteras Negras (Black Panters Party)”.
Para
começar, Ericka cumprimentou a plateia com um “boa noite” em português e
demonstrou por diversas vezes o que é não estar centrado/a somente em si
próprio/a. Pediu às pessoas sentadas que tivessem lugar vago ao lado que
erguessem o braço para que quem estivesse em pé pudesse se acomodar melhor.
Preocupou-se com o calor do ambiente lotado e abafado e pediu que ligassem os
ventiladores. E, ainda, colocou água no copo e quando todos/as pensavam que era
para ela, Ericka estendeu o copo ao tradutor que demonstrou surpresa por
tamanha gentileza.
Ericka,
nessa passagem de duas semanas pelo Brasil, está visitando universidades,
assentamentos e, por meio de conferências, está conhecendo mais do Brasil e de
seu povo. Contando sua história, sua trajetória, imbricada na história e
trajetória dos Panteras Negras. Mostrou grande simpatia e bom humor e fez um
belo relato partindo de sua infância, momento em que descobriu o racismo. Cresceu
em uma cidade em que a maioria da população era negra e não entendia porque
brancos e negros, moravam em lugares diferentes, mesmo ambos sendo pobres. Não entendia
porque crianças brancas cuspiam nela, sem que nada tivesse feito. Perguntou à
mãe, que lhe explicou... Falou sobre a escravidão, sobre o racismo, sobre o
reverendo Martin Luther King. Em uma grande marcha na adolescência, conheceu os
Panteras Negras e passou a fazer parte.
Segundo
Ericka, os Panteras Negras tinham em sua insígnia: “All Power to the People”,
isto é, apesar de ser uma organização negra, compreendiam que a opressão impunha
outras barreiras, além da cor da pele, e queriam que todos, sem exceção,
tivessem voz.
Foi muito
além dos estereótipos que o movimento representa: homens armados, moda, cabelo
black power... Mas uma organização que acolhia homens, mulheres e crianças e
tinha como intuito servir à comunidade e não ditar o que ela deveria querer. Desse
modo, houve um intenso trabalho social voltado para as necessidades apontadas:
roupas, comida, escola... Os Panteras Negras organizaram escolas, campanhas de
distribuição de alimentos, criaram clínicas médicas, dentre outras ações, sem
um único centavo do governo. Seus membros foram perseguidos, assassinados,
presos ou exilados e o movimento foi criminalizado e destruído em 1982, mas seu
legado ainda pode ser visto e sentido, não somente nos Estados Unidos da
América, mas no Brasil e em outras partes do mundo.
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