Há
algum tempo venho observando e acompanhando a reação das pessoas na proximidade
do dia 20 de Novembro. Os posicionamentos são diversos, mas é interessante a
conclusão: com base no senso comum, a maioria das pessoas não compreende o
significado dessa data e, pior, considera uma inutilidade, ou ainda, um
desperdício para a economia do país. Um feriado, tão próximo do período das
festas de fim de ano... Engraçado, pois ninguém questiona que um Estado Laico
tenha tantos feriados religiosos, católicos somente. O comércio deixa de
faturar milhões e os brasileiros não vão trabalhar... Para quê?
Então,
vamos a uma das alegações presentes nas redes sociais: “não precisamos de um
dia de consciência negra, branca, amarela, mas de 365 dias de consciência humana”.
Lindo! Comovente! Vou entender que quem usa esse argumento se diz “sem
preconceitos” e acredita que esse tipo de distinção só acirra o racismo e a
discriminação. Arrá! Portanto, admite que o racismo existe?
Fonte da imagem: : http://pedagogiccos.blogspot.com.br/2012/11/dia-nacional-da-consciencia-negra.html
Pois
bem! Quem é negro não precisa de televisão, jornal ou Internet pra saber disso.
Descobre na infância, nas brincadeiras com os coleguinhas do bairro... No
primeiro conflito, os coleguinhas vão te lembrar que VOCÊ É DIFERENTE. Não
preciso nem mencionar os apelidos, os xingamentos, pois são feridas que jamais
cicatrizam. E isso não é bullying! Mas esses coleguinhas não são racistas,
ninguém nasce racista, a sociedade é racista, logo...
Aí você
vai crescendo e percebendo que seus coleguinhas chegam àquela fase de se
apaixonar... “Fulano gosta de fulana” e etc. Mas ninguém gosta de você... “Você
é legal, mas...” A adolescência chega: as moças se esforçam para ficar bonitas,
isto é, aproximar-se do padrão irreal de beleza que temos e os rapazes começam
a ser escolhidos “aleatoriamente” para as revistas policiais. Alguns já
percebem mais cedo que os seguranças das lojas e supermercados lhes dispensam
uma atenção toda especial em seus momentos de compras... Não é uma sensação de
segurança que surge, mas um incômodo por ser sempre considerado suspeito!
Ah,
e tem aqueles que vão perdendo os amigos de forma violenta. “Foi confundido com
bandido”, “Fez um movimento brusco”, “Pôs a mão no bolso e o policial pensou
que fosse sacar uma arma”, “Estava em atitude suspeita”... Calma! Isso é só um
detalhe: é que um adolescente negro tem 3,7 vezes mais chances de ser vítima de
homicídio. Então, pode acontecer...
Há alguns
anos, um/a jovem negro/a tinha pouquíssimas chances de chegar ao Ensino
Superior. Alguns escorregavam pelo funil e eram tratados como exemplo de que “é
só se esforçar”. O funil mostrava que, ao longo da escolarização, o/a negro/a
ia desaparecendo do sistema de ensino e um percentual baixo concluía o Ensino
Médio. Várias são as causas, uma delas é a evasão por necessidade de trabalhar
e complementar a renda familiar por estar nos piores indicadores sociais do
país; seus pais ganham menos do que os pais de seus coleguinhas - segundo o
IBGE/2013, a população economicamente ativa (PEA) branca possui rendimento
médio 74,2% superior à negra (preta e parda). Outra é a repetência ou
indisciplina, pois você vai à escola e tem que engolir em seco quando o/a
professor/a te chama de “moreno/a”, com medo de ofender e só lembra de seus
ancestrais e sua história no dia 13 de maio quando, em 1888, foram libertados
após mais de 300 anos de trabalho escravo. Nossa, quanto tempo de passividade,
não? É que na escola ninguém te conta sobre os heróis, o processo de resistência...
Aliás,
o dia 20 de Novembro é bastante importante nesse sentido, pois ressalta não
somente a figura de Zumbi e o Quilombo de Palmares, mas possibilita lembrar
todos/as os/as negros/as que, ao longo de nossa História, nos trazem orgulho. Logo,
o dia 20 de Novembro exalta a Consciência Negra, esfacelada por séculos e
mostra-se como uma oportunidade para que os/as não-negros/as também conheçam
essa face que também é da sua História, é da História da Humanidade. Lembra da
consciência humana?
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