Quero prosseguir o relato referente à uma sequência de trabalho sobre Educação e Relações Raciais feita com uma turma de 4º ano do Ensino Fundamental.
Após a exibição do vídeo Vista minha pele, de Joel Zito Araújo, demos início a uma discussão partindo das impressões das crianças sobre o que assistiram. Como relatei na postagem anterior, uma das alunas questionou o fato de ter muitos negros no filme. Ao mesmo tempo em que respondi com outra pergunta, questionando qual o problema... Percebi que o grupo ficou meio receoso de manifestar-se quanto a isso, mas aos poucos, consegui deixá-los à vontade. Muitas colocações foram feitas pelas crianças e percebi que elas realmente tinham ficado um pouco indignadas com o que julgaram, talvez, um excesso de negros na tela. Sem contar que percebi que a personagem Sueli (uma espécie de vilãzinha, interpretada por uma atriz negra) realmente conseguiu irritá-los! Houve até alguns comentários do tipo "feia é ela", pois esta Sueli passou a história toda perseguindo e maltratando a personagem Maria.
Bom, uma ideia que eu fiz questão de deixar clara foi a do propósito de discutir como se dá a relação de brancos e negros em nossa sociedade com um filme que mostrava a realidade às avessas. Perguntei às crianças sobre as hipóteses que elas tinham formado relacionando o que assistiram e com o título da história: Vista Minha Pele. Depois de algumas suposições, uma das alunas disse que entendeu que a intenção do diretor era de que as pessoas brancas sentissem o mesmo que os negros sentem. A discussão foi sendo alimentada com outros elementos e outros fatos do cotidiano e foi curioso que algumas crianças contaram sobre episódios de racismo que presenciaram. Um dos alunos contou que a avó "não gostava de negros" e que costumava dizer que "eles não prestavam". Expliquei a eles que racismo era crime previsto em lei. Ficaram surpresos, pois não tinham noção de que era algo tão sério.
Uma coisa impressionante foi que nesta turma também tinha alunos negros (em sua maioria, filhos de relacionamentos interraciais), porém, notei que estes se consideravam brancos ou "morenos", falavam de negros sem se incluir nesta categoria.
Uma proposta que julguei interessante para a sequência foi a de análise da programação da TV com foco em perceber se negros e brancos apareciam com a mesma frequência e em quais tipos de situações. Enquanto eu explicava a atividade, alguns alunos lembraram de novelas em que apareciam atores ou atrizes negr@s, porém, nos exemplos que eles deram, havia algo em comum: eram tramas de época (ou seja, havia um número considerável de negros representando escravos).
Em breve, relatarei um pouco de como foi o retorno dessa tarefa...
Nenhum comentário:
Postar um comentário