Entrevista com o historiador e professor de História da rede estadual paulista
Jomo Oliveira Campos
Questão 1 – Em sua opinião,
houve avanços na política de promoção da igualdade racial, após 12 anos da
promulgação da Lei 10.639, na rede estadual em que atua? Considerando formações
para os/docentes, inclusão da temática da educação das relações étnico-raciais
e ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana no material didático
“São Paulo Faz Escola”, discussões nas reuniões pedagógicas, projetos da
Secretaria de Educação ou outro tipo de ação?
Resposta - Não é
possível dizer que houve avanços significativos. O material didático do São
Paulo Faz Escola ainda faz uma abordagem eurocêntrica ao lidar com a História
da África.
Questão 2 – Em sua prática
no ensino de História quais conteúdos ligados à Educação das Relações
Étnico-raciais já fazem parte do currículo do Ensino Fundamental II e do Ensino
Médio?
Resposta - Essa parte é
mais “complexa” de explicar. Eu me organizo pela série e pelo conteúdo
curricular. Por exemplo, no 6º Ano (Quinta série) e no 1º E.M. há o conteúdo de
Antiguidades. Muitos alunos normalmente imaginam o Egito como algo “descolado”
do continente africano. Muitos ficam espantados ao verem, por meio de
documentos diversos, que egípcios eram negros – reis, rainhas, arquitetos,
escribas, astrônomos, pensadores (filósofos), e que esses referenciais nos
faltam aqui no Brasil, haja vista em que persistem as distorções sobre a
História do Egito e de outros povos africanos bem como mesopotâmicos. Outro
ponto, trabalhado amplamente no Ensino Médio, é o racismo estrutural brasileiro
(...).
Questão 3 – Enquanto
professor, quais são as principais necessidades que percebe para a efetiva
implementação da lei 10.639/03 na rede estadual paulista?
Resposta - O material
didático do São Paulo Faz Escola, em História, é de qualidade bastante
questionável, pra dizer o mínimo. Atualizar esse material inserindo conteúdo de
História da África e Cultura Afro-brasileira já seria um avanço, pois já
existem livros didáticos ofertados à rede pública estadual que contemplam a Lei
10.639/03.
Questão 4 – É possível
elencar alguns avanços em políticas da Secretaria de Educação que impactaram o
cotidiano escolar no que se refere a essa questão?
Resposta - Não me
lembro de ação efetiva alguma. Isso tem partido tanto mais do esforço individual
ou coletivo dos professores. Se dependermos politicamente da Secretaria
Estadual de Educação, questão racial e de gênero continuarão sendo abordadas de
forma superficial e verdadeiramente pouco contundente no ambiente escolar.
Questão 5 – O que você
aconselha aos/às professores/as que têm interesse e compreendem a relevância do
trabalho com a educação das relações étnico-raciais na escola, mas encontram
obstáculos, muitas vezes com a própria gestão da escola e equipe docente?
Resposta - Primeiro,
continuar estudando e se aprofundar na temática africana e afro-brasileira
sempre que possível. Participar de cursos, mini-cursos, oficinas e assim por
diante. Isso nos dá mais “autoridade” para tratar dessas questões tanto com
nossos alunos, pais e responsáveis quando questionados, bem como com nossos
colegas em ATPCs, por exemplo. Segundo, mobilizar os professores para essa
discussão, sobretudo os que se mostram mais inclinados e proativos. Caso a
equipe gestora coloque empecilhos para tratar dessa questão, cabem
esclarecimentos e, em um cenário mais hostil, denúncias. Tornar esse problema
público. E se preparar para possíveis perseguições e sabotagens.
Questão 6 – Agradeço
imensamente pela sua disponibilidade e atenção e deixo um espaço para que faça
suas considerações finais.
Resposta - Agradeço
pela oportunidade de me expressar neste espaço e em outros momentos espero
contribuir com mais atividades.